Disciplina

Hoje pela manhã fui ao Hospital das Forças Armadas para uma consulta oftalmológica. Parece ser uma coisas simples, mas logo o leitor descobrirá quantas coisas podemos tirar de um simples fato, ou de simples acontecimentos cotidianos. Ao chegar no hospital passei pela guarita policial, logo de cara percebi que não era mais aquele garoto de quinze anos que ia ao hospital militar de bermuda e regata. Um pré-adolescente que tinha que inventar uma história danada para entrar, uma vez que em ambiente militar não permitido circular de bermuda e chinelo. É, não parece, mas o tempo voa. Desde lá já se vão, sei lá quantos anos, parece que foi ontem, não, não parece que foi ontem,- perdoem a força de expressão exagerada – talvez uns cinco, é bem possível. De fato o tempo é efêmero. Pois bem, eis que chego para a consulta. Na sala de espera só havia eu, também me dera, cheguei exatamente ás 7:01 da manhã, minha consulta era às 7:30.

A televisão estava ligada no jornal local da manhã. Trinta segundos depois chegou outra paciente. E às 7:20 eu já estava completamente impaciente. Digamos que eu seja um pouco sistemático, quem me conhece bem o sabe. Mas releve, e este fato da minha personalidade logo logo será bem compreendido pelo caro leitor. A sala foi aos poucos sendo ocupada, restavam poucos assentos vazios, e a cada olhada para o relógio havia passado apenas alguns segundos. Mas o leitor bem conhece este tipo de drama psicológico, e não estou disposto a fazer este tipo de literatura, se é que podemos chamar esta produção de literária.

Para encurtar a história e porque eu não sou romancista, o fato é que a médica só foi me atender ás 8: 10, ou seja com quarenta minutos de atraso. Sinceramente, fiquei incomodado com a situação. Tenho um amigo que diz, é convenção em qualquer lugar quinze minutos de atraso. Quanto tempo perdemos neste sistema de comodidades. Se o horário da consulta é 7:30 a tolerância deveria ser 7:30:59. Comecei a refletir. Não é este o meu caso, mas poderia bem ser o caso de algumas das pessoas que marcaram consulta após a minha, de ter um compromisso importante em um determinado horário, e por causa do atraso gerar um novo atraso, desencadeando assim uma reação conturbadora no dia do cidadão ou cidadã. Não paro por aqui, a nosso lógica de já contarmos com o atraso, em si mesmo, já um atraso. Deveríamos chegar antes, estarmos prontos antes.

Gosto de pensar em contextos, para não ser reducionista, ou ter uma postura de prejuízo, mas , pelo menos na mina opinião, no meu modo de pensar, uma instituição militar requer o mínimo de disciplina. Se no ambiente próprio da caracterização disciplinar esta disciplina inexiste, o que podemos esperar das demais organizações. O desleixo, o descaso. É bem correto que imprevistos existam, mas quando eles são recorrentes, não são imprevisto, são falta de organização. Num país que tem por lema ordem e progresso não deveria haver lugar de privilégio para a desorganização. Muito menos para o atraso, uma vez que o atraso é a relação antônima de progresso. O hospital das Forças Armadas é uma metonímia clara da nosso cultura, do nosso país.

Não que seja tudo horrível e que eu tenha vergonha de ser brasileiro, Deus me livre disso, mas uma das nossas maiores qualidades tende a nos gerar um grande defeito. Confiamos muito na nossa capacidade de articulação e improvisação. Falamos sem pensar, sem refletir, e se a nossa criatividade é uma vantagem em boa partes da vezes, pode se tornar um vício. Bem sei que esta é a nosso cultura.

Talvez eu tenha exagerado um pouco, e de fato poderia aprofundar um pouco mais, mas não quero dar esgotar toda a reflexão aqui, por hora basta que não se constrói uma nação de progresso com quarenta minutos de atraso.

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