Crônicas

Azálea

 

Como em toda manhã me levantei para ir ao trabalho. Tomei café, e saí para a rua. Fiz o mesmo caminho de sempre, passando pela avenida comercial. Em frente a padaria antes da floricultura observei uma linda azálea, diga-se de passagem que é uma flor que aprecio bastante, mas isso é outra história. Na verdade era um bonsai de azálea, sabe… Aquelas arvorezinhas que não crescem, ou que não deixam elas crescer. Voltando ao meu itinerário matutino, a azálea se encontrava em um bonito vaso de cerâmica azul, mas o que me chamou a atenção além da beleza foi outra coisa. Bem… Um dos rapazes que trabalhava na floricultura estava caminhando cheio de vasos e aparatos de jardinagem, ele vinha andando de costas em direção ao suporte no qual estava a azálea, o resultado era quase obvio. Saí correndo! Ainda a uns cinco metros da loja o fato ocorreu, ele esbarrou na flor. Ela começou a balançar no suporte. Não parei. Enfim quando estava a um ou dois metros, ela caiu. O vaso quebrou, e a flor se partiu em duas partes, morte certa. Ia saindo eu meneando a cabeça quando o rapaz me disse: – Você não podia fazer nada.

Fui para o trabalho. Mas de alguma forma aquele fato da manhã, e as palavras do rapaz me fizeram refletir. “Você não podia fazer nada.” de fato eu não poderia mesmo fazer nada para mudar o resultado final, mas agora eu não tenho dúvida disto, sei que dei o meu máximo.Não sei se era porque a planta era um bonsai e fez com que eu entrasse um pouco no clima de Karatê Kid, com todo a questão de não desistir, digo isso pois assisti a nova versão do filme na semana passada, de certa maneira fiquei até decepcionado por não ter bonsai, mas isso é uma outra história…. Imaginei se eu não tivesse corrido, ficaria remoendo isso para o resto da minha vida – eu poderia ter salvado aquela azálea, e quem sabe eu até não poderia então comprá-la e arrumar um bom lugar para ela no meu jardim. Eu sei agora que nada poderia fazer, corri com toda a minha disposição, com todas as minhas forças, eu queria mesmo salvar aquela flor, até gritei, me lembro bem, para que o rapaz da floricultura pudestse de alguma forma fazer algo, mas as suas mãos estavam todas ocupadas.

Trabalhei, ao me deitar para dormir, olhei paro o teto e novamente recordei o meu dia. – Hoje fiz o que pude. As vezes a dúvida do “se” é um tormento cruel, eu sei, você sabe. Quando nos perguntamos: – Ah, se eu tivesse feito isso, ou aquilo. O “se” não faz parte do meu hoje, do meu presente, e isso me alivia, se eu tentasse salvar aquela azálea, quem sabe amanhã eu a encontraria na floricultura e a adentrasse, quem sabe um novo botão não desabrocharia. Não! Por hoje basta de dúvidas. Eu estou de consciência limpa. Essa coisa do “se” me fez lembrar a música do Djavan.

Acredito eu que o leitor deve estar me achando meio dramático, até mesmo meio maluco. Mas é assim, eu sei, você sabe, ( já usei isso antes, não é?). Mas bem, prossigamos. Quem não corre para salvar uma flor, não corre para ajudar alguém, não dá aquele conselho, aquele toque para uma mudança, não ajuda, não se lança ao encontro do outro, não escreve aquela carta (pode ser e-mail também), não liga para matar a saudade. Estamos presos a nós, atados em laços que só laçam a nós mesmos. A nossa indecisão e incapacidade de agir.

Quantas vezes queremos fazer algo, mas a força de vontade titubeia. Será que isso ocorre somente comigo, ou é com todo mundo? Quando não fazemos passamos horas imaginando o que poderia ser, o que viria a acontecer, o que poderia daí nascer. Quando fazemos, mesmo que não dê certo, esses tipo de pensamento pesado não nos aflige, é bem ao contrário, mesmo que a flor morra, eu me sinto bem, não em relação a flor, mas em relação a mim mesmo, ao meu auto julgamento.

Agora vejo um filme da minha vida, que passa diante do meus olhos. Quantas vezes eu me omiti. Nossa perece que são muitas. Por que não falei que amava? Por que ali eu não me esforcei mais. Dizem por aí: “se arrependimento matasse” quem disse que não mata, mata aos poucos. Quando posso fazer o melhor, eu devo fazer, devo tentar fazer. Minha consciência me diz. E amanhã quando acordar e for novamente trabalhar, passarei pela floricultura, passarei de frente da onde ficava a azálea, talvez eu cante: “ A primeira vez é sempre a última chance”. cantarei sem remorsos.

 

Uma resposta para Crônicas

  1. eddy disse:

    Acredito eu que o leitor deve estar me achando meio dramático… dramático? nunca é bem classico, adorei sua crônica me tocou bastante. As vezes me acho impotente diante de certas situações, somos humanos .

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