O poeta e o neófito saíram para poetizar
Ao chegar à esquina do ponto do ônibus
Neófito com seu celular nas mãos anotava
Pessoas olhavam desconfiadas
Aqueles dois tipos ali parados,
Aqueles dois seres estranhos
Neófito disse:
37 minutos, 12 homens subiram no circular, 19 mulheres,
1 transexual, crianças conta também?
Tivemos 4 acompanhadas dos pais.
2 com brinquedos, uma com doce
Outra com a imaginação.
Hum… Eis um som emitido poeticamente pelo poeta.
Neófito levantou aos céus os olhos
Fatigados pela emissão artificial da luz,
As suas pupilas rapidamente reagiram em defesa.
Em si ele sentiu o cheiro do perfume barato da mulher de vestido azul
Que subira no ônibus carregando a inveja do transsexual e os olhares dos marmanjos
Inclusive do senhor de short e havaianas que não havia nada nos bolsos
E que após tristemente constata-lo desceu do ônibus pela porta da frente e se pôs a andar,
Andar como não andava o cachorro que estava sobre os braços da jovem que não tinha filhos,
E se sentia tão vazia como o bolso do senhor de short, exceto por seu cachorro,
Cachorro que era indiferente ao mundo, Neófito sentia,
Senhor indiferente ao Cachorro
Mulher indiferente ao Poeta
O transsexual tentando ser indiferente
Ao abrir os olhos um poeta se sentia
E mais próximo de cada um como nunca se sentiu antes
Do mesmo modo nunca se sentira tão longe
Tão só estando, ao mesmo tempo ao redor tanta gente.
Ali contemplava
A vida que se transformava em poesia
E a poesia que nascia da vida